segunda-feira, janeiro 4

J Mays: O que eu tenho aprendido?

Oi pessoal.
Este é meu primeiro post como Co-Autor do BRoba. Agradeço o convite que o Vitão me fez e sua confiança em mim, e espero contribuir ao máximo com o blog a fim de torná-lo um espaço saudável pra discutirmos tudo em torno do design de transportes, e claro aprender muito com os profissionais que participam aqui e com todos nós que a cada sketch trazemos informação nova.

Para iniciar minha participação nos posts, traduzi um texto escrito por J Mays (head design da Ford) para o site da Esquire Magazine. É uma série de citações que me fizeram pensar e quero dividir com vocês, a respeito de car design, não só COMO fazê-lo, mas também PORQUÊ fazê-lo. Espero que ajude, e por favor debatam, discordem, concordem... fiquem à vontade.

J Mays: O que eu tenho aprendido?

Qualquer um pode fazer uma tostadeira tostar. Muito poucas pessoas podem fazer de uma tostadeira algo cobiçável.

Se você vai à casa de uma pessoa e olha ao redor, você verá exatamente o que essa pessoa é. Se você olha para o carro dessa mesma pessoa, você verá o que ela deseja ser.

Acredite nisso ou não, mas há uma arte em arar a terra. Meu pai tinha uma forma (tecnologia) exata para isso ser feito, um raio laser ao longo do campo. Eu só tinha de treinar meu olhar. Se você direcionar a primeira linha de forma errada, todas as outras sairão erradas. Havia uma precisão nos campos que levei para o design automotivo.

O pequeno segredo sobre simplicidade é que é realmente difícil de alcançá-la.

Um designer é tão bom tanto quanto o que ele conhece. Se tudo que você sabe são 15 anos vivendo em Detroit, isto limitará o que você pode fazer. Se você teve experiências ao redor do mundo, você terá a capacidade de fazer um design com uma estória muito mais rica para as pessoas.

Nem todo carro tem uma estória, e nem todo filme tem uma estória. Muitos filmes são nada mais que efeitos especiais. Muitos carros são nada mais do efeitos especiais também, e todos estes são dispensáveis.

Houve mais não-Mustangs do que Mustangs. Ele saiu um pouco da linha nos anos 70, voltou nos anos 80 e desviou novamente nos anos 90. Fizemos muitas pesquisas antes de projetarmos o modelo 2005, e chegamos à conclusão de que os que foram realmente importantes, que tocaram o coração das pessoas, estavam entre 1964 e 1970. Eu queria ter um 2005 como se estivesse pegando um 1971. Então basicamente apagamos 35 anos de Mustangs pra focar a estória na mente da todos.

Eu não acho que os carros são mais importantes para os jovens do que seus computadores.

Há um “ponto de parada” em um design. É aquele dia em que não cabe mais Clay embaixo das minhas unhas.

Querer um determinado telefone celular como símbolo de status beira o ridículo.

As pessoas às vezes vestem um terno “meia-boca” com camisa e gravata para estarem bem vestidas. Isso é mais formal, mas não tem nada a ver com estar elegante.

O sucesso tem muitos pais.

Clichês tem mais valor do que o valor que damos à eles.

Eu incentivo a competição entre a equipe de design. Mas também lembro à todos que o colega ao seu lado não é seu inimigo. É como um Honda e Toyota.

Carros nos anos 50 tinham rabos-de-peixe e barbatanas. Parecem que foram construídos com foguetes na traseira. Isso era um reflexo do otimismo de seu tempo.

Como se parecem os talheres? Como são os pratos? Como a comida é servida neles? O ambiente é pensado como um todo? Parte das razões que me levam à um bom restaurante é sentir a “vibe” completa.

Eu não acho que os Americanos se vêem tão claramente como os Europeus os enxergam.

Eu ainda me comparo com a vontade daqueles que eu vejo saindo da faculdade. No dia em que eu achar que a minha não chega aos joelhos deles, então eu saio do negócio. Mas ela ainda chega.

Não se faz mais músicas sobre carros.

Entrevista por Cal Fussman.

30 comentários:

  1. Putz que da hora Rodrigo!
    Eu adorei, achei muito legal a iniciativa de colocar um texto pra refletir, inspirar q colocar a gente pra questionar e pensar na hora de projetar
    Abaraço

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  2. Mt bom Rodrigo! A historia do restyling do mustang eh emblematica...

    abs..
    Jony.

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  3. Otimo Post Ciossa! chegou metendo o pé!
    esse post eu vou ler e reler durante muito tempo viu! tem muita coisa aí, q na primeira lida não nos eh claro, só tenho a agradecer pelo post! demais!

    grande Abrassss!

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  4. Senhores, obrigado por lerem. Espero postar mais umas "filosofias" aqui no blog. Rodox, esse do J Mays tá suave... tenho ouvido algumas coisas que andam chacoalhando minha mente muito mais... abraço!

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  5. Poxa! Então fico no aguardo pra ler mais!
    Vlw Ciossa!

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. belo post Ciossa...
    esse tipo de texto é interessante pra entender mais ou menos qual a linha de pensamento dos "chefoes"do design. Bem ou mal, J mays, Chris Bangle, Walter de Silva, Ed Welburn, e etc conseguem implementar sua linha de pensamento de design nas empresas q lideram e acabam influenciando o dia-a-dia das pessoas.
    Eu acredito q a compreensao dessa "filosofia" é tão importante qto um belo sketch.
    abrass

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  8. Grande Ciossa!!

    Post de muito conteúdo heim, o estória da tostadeira resume tudo!

    Parabéns pelo post e bom trabalho nos próximos, espero que esta experiência seja grande não só para nós que colhemos o conteúdo do blog mas pra vcs que se dedicam em trazer o conteúdo também.

    Abração !!

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  9. Fábio,
    Acho que para o futuro, esta frase resume muita coisa: "Eu não acho que os carros são mais importantes para os jovens do que seus computadores."

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Concordo Ciossa, tem um video com ele, onde ele explica essa relação dos jovens com os computadores, dizendo que os computadores são os Hot Rods dessa nova geração.
    Vou tentar achar esse video e posto o link.
    abrass

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  12. Blz Sandrin, manda pra gente! E não foi só ele que ouvi dizer isso. Na verdade, dá pra perceber algumas coisas que vão mudar na próxima década... é uma loooonga estória.

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  13. Muito legal esse post! Nos serve de motivação e nos faz pensar antes de sketar!

    Parabéns pela iniciativa Rodrigo!

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  14. http://www.youtube.com/watch?v=lIOmtUu3l90

    tá ai o video... infelizmente nao tem legenda, mas ele fala devagar. Realmente essa parte do hot rod ele faz uma citação e depois explica mais ou menos qual foi o processo do consumidor para o Fiesta e as mudanças que a nova geraçao espera nos carros, para que sejam atrativos.

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  15. Ótimo vídeo. Particularmente que aplicar conectividade em um carro não será suficiente.
    Não sei se é isso que realmente fará alguém gastar muito dinheiro em um carro. Isso tende a virar como TVs LCD (tecnicamente todas são iguais). No começo pode soar apelativo mas em pouco tempo vira commodity.

    Ainda vou postar alguma coisa sobre o "algo mais" e o "algo menos" que penso no futuro dos carros. Antes quero conversar com gente mais experiente...

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  16. A tecnologia nao será suficiente, pq acaba virando "padrao", algo q já parte tão intrisseca no dia a dia q deixa de impressionar.
    No fim das contas o "algo mais" acaba sendo o design. Como ele cita no video, as pessoas continuam querendo carros, que pareçam carros e que representem de alguma forma o que elas são ou querem ser.

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  17. Texto muito bom, essa iniciativa de colocar esse tipo de informação aqui no blog ajuda demais!

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  18. Sandrin mandou bem nos comments! gostei de ver! dialogo entre ciossani e Sandrin q poderia ser dirigido facil pelo Knetin tarantino! fico feliz ocm essa interação entre os designers e a galera q ta iniciando! vlw pela força ae!!!

    abrassssss!

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  19. Tarantino? rsrsrs, um dia ainda gravaremos todo mundo num buteco... pra beber cerveja e falar de carros... :))

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  20. Curti muito esse post tb... ainda estou refletindo sobre as frases... hehe

    Parabéns Ciossani... sempre contribuindo bastante com a gente!!

    Abração pessoal!!

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  21. acho mto legal essas reflexões sobre design... dessa entrevista toda, a frase q mais me marcou foi "não se faz mais músicas sobre carros".. e eu fico pensando.. os carros estão menos atraentes? a importância do carro para a sociedade se diluiu com a quantidade de bens de consumo lançados nas últimas décadas? ou a quantidade de modelos é tão grande que torna o carro algo "banal"? ou nenhuma das anteriores? heheheheh
    parabéns pela iniciativa Ciossani! vc é uma das cabeças pensantes do blog.. hehehehehe
    só pra constar.. eu tbm sou colaborador! valeu vitão!
    volto pra São Paulo essa semana (quinta), e quero preparar um post sobre os materiais que o pessoal anda pedindo ae...
    abraços!

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  22. "Clichês tem mais valor do que o valor que damos à eles."

    Putz grila, isso explica muita coisa... principalmente sobre o Mustang.

    Clichê é algo q so tem valor quando vc o usa pra mostrar o quao ridiculo ele é. Exemplos disso: pop art, roteiros do Chaves (programa infantil), sátiras musicais e cinematgraficas assim como produtos retrô (uns poucos).

    J Mays fez bons projetos como o GR1 q é algo desejavel. Mas por exemplo o Cobra chega a ser previsivel. E o Mustang vai pelo mesmo caminho.

    Os Mustangs q ele menciona foram reconhecidos por terem um espirito, ou melhor, uma vocacao realmente esportiva: carro com desenho distinto, pequeno, agil... um carro com o qual vc se diverte. O Mustang atual tem a cara dos dessa época, e de forma alguma é feio ou mal resolvido (ja dando o desconto q se trata de um carro americano e portanto "entende-se" a falta de escultura na forma). Mas tb nao é um carro esporte. O pressuposto luxo interior e as proporcoes avantajadas fazem dele um apartamento sobre rodas. Entre num, e tente sentir alguma conexao com o mundo exterior... Dificil. O carro parece querer concorrer com os lendarios Pontiac GTO, Camaro, Chargers e Challengers, e na minha opiniao deveria se afastar disso, como diferencial.

    Quem sou eu para dizer o q vende melhor nos EUA? Mas nem tudo o q vende bem é sinonimo de BOM. Se fosse assim as pessoas beberiam mais agua e menos refrigerante, nao heveria tantas revistas de fofoca, e outros exemplos onde o apelo supera a razao.

    Um exemplo de evolucao pode ser visto no Corvette. É sabido de alguns no BRoba que sou fã de Corvette, mas mesmo assim sei reconhecer as limitacoes do carro... enfim. O Corvette em sua ultima geracao diminuiu em comprimento e largura, aumentou seu rendimento e potencia com o mesmo motor, evoluiu seu conceito construtivo e tambem seu design. Nem com isso tudo ele deixou de ser o primo pobre dos supersportes... ainda nao se compara com uma Lamborghini, Ferrari ou Porsche... Mas é um carro muito melhor tecnicamente do era, continua com personalidade, tem trazido ainda algumas inovacoes e o mais importante: vc pensaria duas vezes antes de por uma Ferrari ou um Vayron na pista (a menos que vc seja milionario), mas com um Corvette vc nao tem essa "culpa". O carro é mais acessivel, competitivo e divertido! É sem duvida um carro que nao tem hora nem lugar pra pilotar...

    E considerando tanto os fatores acima eu pergunto: onde vc ve esse historico no Mustang? O q vc pode esperar dele? Qual a experiencia singular q ele oferece a quem o dirige?

    Voltando ao J Mays, pra concordar com a frase dele so se ele se refere à "clichê" como alguns valores culturais que se expressam o reconhecimento de algo atraves da cópia, ate o ponto em que fica banalizado.

    Pra mim a frase que valeu essa entrevista foi: "O pequeno segredo sobre simplicidade é que é realmente difícil de alcançá-la."

    E a verdade nesta frase é q vc pode criar um design simples mas nao necessariamente inovador, ou relevante... mesmo a simplicidade pode passar pela mira dos clichês!

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  23. Nelson,
    Seus dois últimos parágrafos me revelam sua experiência germânica, porque ouço isso todos os dias aqui em Pforzheim sobre simplicidade. E concordo que quanto mais simples e mais autêntico é o design (ou a mensagem a ser comunicada) mais atemporal e mais valor se agrega a um carro ou outro produto.

    Postarei ainda algumas coisas sobre o Philippe Starck a respeito da simplicidade das coisas.

    Assino embaixo seu comentário. Simplicidade exige muito suor pra se conseguir.

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  24. Obrigado Rodrigo... é vc tá terra da gestalt... vai acabar com um bloco de papel pra tirar 2 ou 3 linhas.

    Minha meta de design tem sido isso: criar um design q seja relevante e pregnante com no maximo 2 linhas...

    Se seu design precisa de mais q isso, volte pra prancheta ahahah!

    Por falar em pforzheim, vc conhece o Rafael Gross? É Br tb e foi meu aluno... gente boa ele!

    Abr!

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  25. Conheço sim Nelson. Moro hoje no apto. que ele morava, agora ele tá em Berlim fazendo a tese do Master dele. Ele me contou que fez o curso com vc, falou de algumas dicas pra sketches de interiores... show.

    Estou me acostumando ainda a gastar muito papel pra chegar em algo simples. Não é fácil. Sai muita porcaria no meio e a mente tem que estar muito focada, e exige tempo. Não dá pra aparecer com algo "timeless" em uma tarde (!) como muitas vezes tive que fazer já...rs

    Você sabe disso muuuuuuito melhor que eu...

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  26. Pois é... esse é o meu dilema até hj. Todo mundo quer classicos prontos em 3 dias... Um dos meus objetivos é descobrir como desacelerar o processo de desenvolvimento em prol da qualidade do conceito e da pesquisa. No final, se vc passa mais tempo consolidando o conceito e planejando o desenvolvimento, todo o custo de producao é significativamente reduzido a curto prazo. Isso pq vc nao vai precisar de retrabalho ou de gastar muita grana com propaganda.

    Um dia isso vai mudar!

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  27. Acho que muda sim. Clientes estão começando a perceber. Muitas vezes o design barato é mais que existe. Cansei de ver cliente cortando "custos" na etapa de criação, e depois refazendo muita coisa na produção... um dia chegamos lá. Tenho fé.

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