Design com Raça

Todos sabem que o mercado de design automotivo é muito competitivo e fechado, por isso é importante que haja motivação para aqueles que buscam esse sonho. Quem acompanha o BRoba desde o início sabe que temos a intenção de cumprir a função de ser esse motivador, ser o ponto de encontro daqueles que estão começando a jornada com aqueles que estão percorrendo ou já percorreram o caminho. Por isso, é importante relatar histórias inspiradoras de pessoas que superaram grandes obstáculos na carreira como designer automotivo.

Uma dessas histórias é a do designer Fernando Morita, o qual muitos de vocês já ouviram falar. Morita iniciou a carreira automotiva em 2002 no estúdio da Volkswagen do Brasil, mas antes disso trabalhou com brindes na empresa Aline Brindes, trabalhou com madeira na IPT e depois com design de produto focado em eletrodomésdicos na Orgânica Design. Segundo ele, foram essas experiências que deram a base necessária para conseguir entrar na VW.

Depois de um o ano de estágio em São Bernardo foi convidado a trabalhar na matriz. Na Alemanha participou do projeto de vários carros de produção. Em seguida, foi para o Design Center Europe (DCE), estúdio da VW onde ele trabalhou com carros-conceito e no qual aprendeu muito sobre a construção dos mesmos. Lá teve contato com caras como Daniel Simon, Christian Felske e Cris Gudma. Embora trabalhasse com projetos conceituais, percebeu que não teria a liberdade de ousar o quanto gostaria nas suas criações, o que o desmotivou e o fez abrir mão do seu emprego. Quando pediu a conta já tinha planejado abrir a Amoritz GT, inclusive a marca e o logotipo já estavam prontos. Antes de retornar ao Brasil decidiu fazer uma ultima tentativa. Essa parte da história eu deixo para o próprio Morita relatar, fica mais interessante:

“Quando eu pedi as contas do DCE, pensei comigo: - Se for para voce cotinuar em montadora, qual seria ela?! Minha resposta para mim mesmo foi: -Alfa romeo! que sempre fui apaixonado.... Entao comprei uma passagem so de ida, fiz uma mochila e fui para Italia, apenas com alguns euros no bolso (restrito), o nome do chefe de design de la, e o nome da cidade.... Antes passei por Roma, Veneza, Milao, para entao chegar ao meu destino, quando cheguei la, disse em ingles a portaria que tinha vindo para deixar o meu portifilio para o tal chefe de design, porem eles nao falavam em ingles, e so entenderam o nome do tal chefe... e me perguntaram se eu tinha um areuniao com ele! Eu prontamente disse que sim, e que sabia o caminho! haha nao fazia ideia, me senti o verdadeiro espiao, alem de estar com uma camera no bolso, o que eh estritamente proibido nessas areas. fui andando, ate encontrar um pessoal, ai perguntei onde era o Design, e eles me responderam que era la, porem a entrada estava impedida, ai me convidaram a entrar por tras, era a entrada da parte de prototipos! vi muitos carros la, e descobri que realmente os italianos sao muito baguncados, resumindo a historia andei la dentro, conversei com pessoas, ate me descobrirem e perguntarem o que eu fazia la, ai tive que tirar meu desfarce, e ir para a recepcao, onde aguardei e entreguei o meu portifolio para uma pessoa que não sei quem era, (era designer) e vi na hora que ela comecou a olhar que nao ia entregar, e ela ainda me perguntou, se voce trabalha na VW da alemanha (Potsdam) porque vc quer vir para ca?! pois o estudio la é muito menor e menos estruturado..... dai voltei para o Brasil, tranquilo, sabendo que tinha feito minha parte, e nao voltaria mais atras para trabalhar em montadora. Porem o destino me obrigou a voltar p VW, por mais um ano, o suficiente para juntar dinheiro e abrir a AmoritzGT. E descobri que um dos meus planos nao daria certo que era fazer o prototipo ao mesmo tempo em que trabalhava na VW, mas li o contrato, e vi que nao era permitido eu fazer isso.....”

Em 2005, quando voltou a trabalhar na VW do Brasil, Morita deixou claro para seu chefe que trabalharia apenas um ano, palnejando guardar dinheiro para seguir o sonho de abrir seu próprio estúdio no Brasil, mesmo tendo noção dos riscos e dos grandes obstáculos que teria que superar.

Em 2006 deixou a VW e seguiu em frente com seus planos, mas sofreu um duro golpe quando deixou de receber um dinheiro combinado na rescisão de seu contrato, com o qual contava para iniciar a Amoritz. Morita iniciou a construção do modelo em escala 1:4 do LSPS na garagem da sua casa.

Acreditando no seu potencial, decidiu investir tudo que tinha na construção de um protótipo do LSPS com a intenção de chamar a atenção e conquistar confiança de possíveis clientes. Da necessidade de um lugar para o desenvolvimento do protótipo surgiu o primeiro espaço oficial da Amoritz GT, um porão reformado.

A construção do protótipo foi feita com orçamento bastante restrito, já que contava apenas com recursos próprios. Sem a disponibilidade de recursos tecnológicos avançados, como nas grandes montadoras, e com poucas ferramentas, Morita teve que improvisar bastante e usar muito a criatividade.

O modelo em escala 1:1 foi construído a partir de um esqueleto em MDF que teve como base o side view e secções tiradas do modelo escala 1:4. Esse esqueleto teve a função de estruturar o modelo e orientar a simetria, depois foi preenchido com PU e coberto com massa corrida. Desse modelo foi tirado o molde que daria a origem a carroceria LSPS. O chassi foi desenvolvido especialmente para o carro com ajuda de uma empresa terceirizada.

Depois de pronto, o protótipo foi apresentado ao público no Xtreme Motorsports em 2007. Logo após o evento Morita já começou a colher os frutos do seu esforço quando a AGT recebeu sua primeira encomenda, o projeto de um protótipo desenvolvido em caráter confidencial, do qual serão fabricados apenas 50 unidades.

Morita alcançou seus objetivos e hoje a AmoritzGT funciona em um novo espaço, bem organizado e equipado, onde tem condições de oferecer serviços de design automotivo que vão de customização a construção de protótipos.

Atualmente está trabalhando no projeto de um novo protótipo da AmoritzGT, um Superesportivo. Ai que entra o BRoba, o Morita quer saber de vocês como seria um “Dream Car Made in Brasil” , e por isso esse será o tema do Super BRoba Contest especial de Aniversário. Quem tiver o trabalho mais votado vai ganhar um prêmio exclusivo da AGT.

Para a construção desse novo protótipo, Morita desenvolveu vários equipamentos como Simetrizador para modelo 1:1 com precisão milimétrica, fabricou 800kg de Clay sem enxofre , construiu um compressor para usar no molde a partir de um motor de fusca, e uma cabine inflável para lixamento. Além disso, vai contar com Clovis Augusto de Sousa no desenvolvimento de novas tecnologias e processos, e Alexandre Hirata, engenheiro que já trabalhou na Ford.

As portas da AmoritzGT estao abertas para quem quiser visitar na Av Imirim, 1928 ZN São Paulo.

Espero que essa curiosa história sirva para motivar vocês na jornada para construção de uma carreira e estimule vocês a participarem do Super BRoba Contest especial para comemorar o primeiro ano do Blog.

Texto e edição: Victor Samuel